Bem-Vindos
Nunca fomos senão o Espaço infinito onde continuamente surgem, se transformam e dissipam fenómenos, mundos, astros, céus, terras, seres vivos, coisas, acontecimentos, emoções e pensamentos, incluindo o de haver tudo isto… Nunca fomos senão o Infinito, a sua imensa paz e liberdade silenciosa. Nunca fomos e jamais seremos senão o Infinito. Mas imaginamo-nos distintos e separados, vemo-nos não como o espaço, mas como algo ou alguém no espaço. Somos muitos a fazê-lo e achamos isso evidente e normal. Estamos a dormir, sonhamos que estamos despertos e que o sonho é real. E isso é estarmos cativos na prisão que não há. Num sentido a mais temível, noutro sentido a mais ridícula. Pois as suas únicas grades são as da mente que mente, a mente demente, que deposita uma crença cega na objectividade das suas alucinações e ignora, escarnece ou insulta quem lhe diga o contrário, que os seus melhores sonhos cor-de-rosa e os seus mais temíveis pesadelos, tudo aquilo que lhe dá uma tão forte sensação de ser real, não existem e nunca existiram.
Procura bem no fundo dos bolsos da vida. Há sempre um rasgão que dá para o Espaço.
A meditação é um aspecto essencial da Via para despertar disto. A meditação que nos abre os olhos para vermos que nunca fomos senão espaço livre e ilimitado. A meditação que desperta a mente que mente e lhe revela a sua natureza primordial, a do infinito omniabrangente e superabundante de consciência e amor. A meditação que nos livra de todas as ficções acerca de nós mesmos e nos devolve ao espaço ilimitado. A meditação que é um balde de água fria que nos desperta do aconchego dos nossos sonhos. Não a meditação que nos mantém adormecidos na ficção de estarmos separados e se limita a tornar mais suportável, agradável ou rentável a nossa vida de escravos inconscientes de sermos livres. Não a meditação que apenas acalma a mente que mente, para que minta mais em paz.
Breve Apresentação
Professor do Departamento de Filosofia da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e investigador do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Ensina Filosofia da Religião, Pensamento Oriental, Filosofia e Meditação e Filosofia em Portugal. Professor de Medicina e Meditação na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Responsável pelo módulo “Viver e Morrer em Paz e Consciência Plena” no Mestrado em Cuidados Paliativos na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e pelo módulo “O Luto nas Religiões da Humanidade” na Pós-Graduação em Terapias do Luto na mesma Faculdade. Professor de Meditação, tendo realizado desde 1999 centenas de cursos, workshops e retiros em Portugal e fora de Portugal. Criador do programa de formação meditativa O Coração da Vida. Investiga e publica nas áreas de Estudos Contemplativos, Filosofia da Consciência, Diálogo Inter-Espiritual e Inter-Religioso, Pensamento e Cultura Luso-Brasileiros, Ecologia Espiritual e Filosofia da Natureza.
Membro correspondente da Academia Brasileira de Filosofia. Sócio-fundador do Instituto de Filosofia Luso- Brasileira. Ex-presidente (2005-2013) e membro da Direcção da Associação Agostinho da Silva. Sócio-fundador e ex-presidente (2002-2014) da Direcção da União Budista Portuguesa. Vice-Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Sociedade de Ética Ambiental. Sócio-fundador e presidente do Círculo do Entre-Ser, associação filosófica e ética. Sócio-fundador e presidente da Direcção da MYMA – Associação para a Cultura Contemplativa. Co-fundador com Daniela Velho dos projectos Visão Pura e Viagens do Despertar, dedicados à meditação, imersão na natureza e viagens com sentido espiritual.
Um dia poremos Pseudo antes do nosso nome e de todo o modo de nos apresentarmos. Então começaremos a recuperar o juízo.
Líder de prática no Grupo de Prática Tergar – Lisboa, sob orientação de Mingyur Rinpoche. Membro do grupo de investigação internacional sobre Emil Cioran, sediado na Universidade L’Orientale de Nápoles. Coordenador do grupo de investigação internacional Saudade. Coordenador do Seminário Permanente Vita Contemplativa – Práticas Contemplativas e Cultura Contemporânea, no grupo Praxis do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa. Coordenador do Núcleo de Pensamento Português e Cultura Lusófona, no grupo de História da Filosofia do Centro de Filosofia da Universidade de Lisboa.
Doutor Honoris Causa pela Universidade Tibiscus de Timisoara, Roménia, em 2017. Recebeu o Prémio Ibn Arabi – Taryumán 2019, na Universidade de Ávila, em Espanha, em 12 de Maio de 2019, pela obra no domínio do diálogo inter-cultural e inter-religioso. Autor de centenas de comunicações e conferências, artigos e outros textos em revistas científicas e obras colectivas, publicados em Portugal, Espanha, França, Itália, Alemanha, Roménia, Turquia, EUA, Índia, Colômbia e Brasil. Autor e organizador de 56 livros de ensaio filosófico, aforismos, poesia, ficção e teatro (consultar a bibliografia integral).
Autobiografia
Dizem que me chamo Paulo Borges e que nasci em Lisboa, em 5 de Outubro de 1959, mas a Vida faz-me duvidar de ter algum nome e de em rigor haver nascido. Brinquei e corri nas ruas de uma Lisboa espaçosa, branca e luminosa. Descobri desde a infância o mistério, o espanto e a estranheza de ser. Via-me como um pele-vermelha: identifiquei-me com o chefe Sioux Cavalo Louco. A primeira iniciativa, pelos 10 anos, foram jornais manuscritos de um movimento de libertação dos índios norte-americanos, a que só eu pertencia, introduzidos nas caixas de correio dos vizinhos. Recordo o fascínio pelas pontes e a ânsia de as construir. Hoje sei que são pontes entre Tudo e Todos.
Todos aspiramos a ser estrelas. Até descobrir que somos céu.
Recebi do meu pai, Álvaro, e do meu avô paterno, José, o amor à justiça social e à liberdade. Do meu pai herdei também a paixão pelo desconhecido e a iniciação à meditação. Da minha mãe, Maria Isabel, e da minha avó materna, Maria da Conceição, recebi o amor pelos animais. Do meu avô materno, Eduardo, colhi o silêncio na tristeza e da minha avó paterna, Catarina, a alegria na comunicação. Adolesci em pleno 25 de Abril, com a paixão do amor absoluto e da revolução total, que descobri que tem de começar por dentro. Reconheci-me no movimento libertário. Desiludido com o conformismo pós-25 de Abril, passei uma fase semi-niilista: fui um dos precursores do movimento Punk em Portugal e vocalista dos Minas & Armadilhas. Primeiro quis estudar Arqueologia. Depois percebi que a arché (origem) que buscava era a Vida primordial e cursei Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde fiz Mestrado e Doutoramento e onde ensino desde 1989. Sou professor das disciplinas de Filosofias da Ásia, Filosofia da Religião, Filosofia e Meditação e Filosofia em Portugal. Também ensino Meditação e Medicina na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Abandona o mais próximo e familiar. Busca o mais estranho e distante. Encontrarás o íntimo.
No final da licenciatura, em 1981, descobri as tradições espirituais da humanidade como vias de abertura da consciência-coração. Pratiquei yoga e iniciei a prática da meditação budista tibetana. Igualmente sensível a todas as tradições espirituais, escolhi a via do Buda pela qualidade dos seus mestres vivos, pela sua ética cósmica e por senti-la como, para mim, a mais adequada para um despertar da consciência que transcenda todas as vias. Ao descobrir a via do Buda, reconheci a profundidade da cultura portuguesa, enraizada na mitologia de Oestrímnia, Ophyussae, a Terra das Serpentes, e Lusitânia. Acarinhei um Portugal ideal, mediador de um novo ciclo da consciência, visionado por Luís de Camões, Padre António Vieira, Teixeira de Pascoaes, Fernando Pessoa e Agostinho da Silva: o “Quinto Império” (sem imperador) da consciência universal. Descobri que a Saudade transcende todo o Fado no regresso ao Infinito que jamais cessámos de ser. Fui sebastianista da Realeza Encoberta em tudo.
Achas-te tanto mais importante quanto mais ignoras quão precioso és.
Convivi com Agostinho da Silva, desde 1982 até à sua partida: o seu exemplo e mensagem inspiram-me continuamente (sobretudo a visão do Espírito Santo como o sopro sagrado comum a todas as tradições). Com ele e outros sábios vi que somos simultaneamente nós mesmos, todo o mundo e ninguém. Entre os grandes mestres budistas com quem tenho tido a fortuna de aprender, destaco Dilgo Khyentse Rinpoche, Trulshik Rinpoche e Sua Santidade o Dalai Lama, cujas vindas a Portugal ajudei a organizar em 2001 e 2007, tendo traduzido neste ano os seus ensinamentos públicos. Hoje tenho Mingyur Rinpoche como principal mestre na via do Buda, a par da inspiração de Thich Nhat Hanh.
Um silêncio grita no íntimo de tudo. Desde a eternidade nada faz senão chamar o teu nome.
Em 2009 ajudei a criar uma iniciativa política alternativa, focada na defesa da Terra e de todos os seres vivos. Fui cofundador e presidente do PAN, demitindo-me em 2014 e desfiliando-me em 2015 por desilusão com a política partidária. No mesmo ano fui candidato anunciado à presidência da República, apenas para lançar o movimento informal Outro Portugal Existe, proposta de convergência das iniciativas alternativas à crise da civilização. Em 2019 criei o movimento informal Irmânia, inspirado em Agostinho da Silva.
A tua Vida cumpre-se sem ti. Só tens de sair do teu próprio caminho.
Amo e sou amado. Tenho filhos da carne – Martim e Oriana – e do espírito. Pratico e ensino filosofia e meditação. Vejo a reunião de ambas como a via para redimir a primeira da sua deriva meramente intelectual e académica e para libertar a segunda da mera busca de bem-estar “espiritual” ou de foco e eficácia acríticos. Gosto de caminhar, contemplar e celebrar ser o que tudo e todos são: infinita e indizível Plenitude.
Um dia despertamos e a vida reduz-se a um ponto de exclamação.
Das muitas iniciativas destaco o Círculo do Entre-Ser, a Visão Pura, com Daniela Velho, a MYMA e a Irmânia, inspirada em Agostinho da Silva. Todas visam desvelar sínteses entre as sabedorias da humanidade, actualizando a sua mensagem libertadora. Tenho o privilégio de colaborar com a MacroViagens acompanhando grupos em peregrinações à Índia, Nepal e Butão facilitando introduções à meditação e à filosofia budistas. Sinto-me vocacionado para o diálogo inter-cultural e inter-espiritual e para explorar experiências-limiares: abertura e expansão da consciência, erotismo e sexualidade, sonho, poesia e morte. Sinto-me um contemplativo-activo: apenas um dos muitos que convergem para o Despertar da consciência-coração como o grande propósito da vida. Aspiro a que todos os seres sejam livres e felizes e a sair quanto antes do meu próprio caminho. Dizem que tenho um ar sério, mas por dentro sinto-me sempre uma criança a sorrir com duas pombas nas mãos (como numa foto de infância).